Entrevista a António Nóvoa vice-reitor da Universidade de Lisboa
"É justa a queixa dos professores de que muitas vezes lhes é exigido que façam sozinhos o papel de educadores, substituindo-se aos pais em algumas tarefas que lhes competiam?
Sem dúvida. Historicamente, a escola foi procurando compensar a fragilidade das famílias, e da sociedade, assumindo um número cada vez maior de missões. Tudo, mas mesmo tudo, foi passando para dentro das escolas. Como se fosse possível resolver todos os problemas das crianças e dos jovens no espaço escolar. Não é. Importa, por isso, recentrar a escola nas tarefas da aprendizagem e, ao mesmo tempo, reforçar um espaço público no qual as famílias e as comunidades assumam as suas próprias responsabilidades."
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Hoje em dia generalizou-se a ideia de que cabe ao professor fazer tudo e é sobre ele que caem as responsabilidades do sucesso/insucesso dos alunos. Não estou a querer dizer que o professor não tem responsabilidades nenhumas (é óbvio que as tem). Mas certamente não as tem todas. De nada vale o professor explicar, fazer fichas, resolver exercícios, mandar tpc's se depois os alunos não acompanham a matéria em casa, não se esforçam e não estudam. O professor pode estar atento às dificuldades de cada aluno, pode motivar... Mas em casa a responsabilidade é (devia ser) dos pais. No entanto o que passa "cá para fora" é que se o aluno não aprende a culpa é do professor: porque não explica, não faz nada, não compreende os alunos... Há casos e casos mas definitivamente na nossa sociedade reina cada vez mais a ideia errada!
Entre o professor ter de fazer tudo (nunca vi exigência legal para isso, nem exigência de nenhum Ministro da Educação) e confinar-se às 4 paredes da sala de aula vai um enorme espaço. A escola não é meramente um conjunto de salas de aula onde em 45, 50 ou 90m se transmite um conhecimento subdividido em disciplinas estanques de geração em geração. As actividades escolares devem desenvolver conhecimentos, capacidades, atitudes, despertar interesse curiosidade, animar os estudantes a aperfeiçoarem os seus intreresses, a decobrirem as suas melhores capacidades, etc. Como isso é feito? Há muitas maneiras possíveis. A portuguesa é que não funciona. Porque isto de 4 professores diferentes mandarem todos os dias trabalhos de casa para os alunos fazerem é incomportável. Onde têm eles tempo para tanta coisa? Os pais que os ajudem? E os pais que não têm formação para os ajudar? Os alunos que estudem pelos livros? Pois se a maioria são de fraca qualidade! E no fim de semana ainda têm de fazer trabalhos de grupo, revisões para testes e provas globais, etc. Os pais que os ajudem? A escola portuguesa não funciona bem!
Dou só um exemplo de um funcionamento diferente: em Singapura os alunos estão na escola todo o dia; de manhã têm aulas; de tarde fazem trabalhos escolares; os melhores alunos progridem mais fazendo actividades que os desenvolvem; os alunos com mais dificuldades são acompanhados de modo a conseguirem fazer o que o professor espera deles; no fim do dia não levam trabalhos para casa. Os pais são chamados à escola sempre que os seus filhos mostram falta de empenhamento, etc. Não são os pais que ensinam os seus filhos ou os ajudam a fazer o trabalho de casa. os alunos estudam e trabalham na escola, não em casa. As suas dificuldades são acompanhadas na escola; as suas capacidades são desenvolvidas na escola.
Não conheço o modelo de Singapura,mas sei que a China já tem as melhores universidades. No entanto,tanto quanto sei,os programas são menos extensos e mais aprofundados. Cá em Portugal, com o currículo actual, é impossivel os alunos terem aulas só de manhã. E no fundo, para que servem as áreas curriculares não disciplinares? Traduzem-se em cerca de 4 horas semanais não "aproveitadas"...
Mas mesmo que as tardes ficassem libertas, a questão de fundo, é uma questão cultural! Li um artigo sobre uma escola primária portuguesa onde estão integradas 3 chinesas, numa turma do 4º ano.Uma delas já cá vive há uns anos e é a melhor aluna da turma. As outras duas, que apenas vieram o ano passado e têm como entrave o desconhecimento da língua,mal percebem o que lhes é pedido, passam a dianteira a Matemática em relação aos outros alunos. Dizia o citado artigo:" A diferença está na atitude, pois enquanto os portugueses pulam, saltam, discutem no início da aula, elas ficam caladas, prontas a escutar e absorver aquilo que lhes é ministrado."
Concordo inteiramente que os alunos saiam da escola com os trabalhos feitos. Concordo que devem ser apoiados pelos professores, não só nesses trabalhos de casa, mas no esclarecimento de dúvidas ou outro tipo de trabalho que queram realizar.
Mas muita coisa terá de mudar...
Na realidade o ensino na China ainda não atingiu um nível tão elevado. Num ranking de universidades feito até por uma universidade chinesa, a primeira universidade chinesa é referenciada apenas no lugar 153. Como curiosidade refira-se que nos primeiros 20 lugares aparecem 17 universidades americanas!
Veja-se o ranking em http://ed.sjtu.edu.cn/ranking.htm
Por isso parece-me extremamente perigoso comparar a nossa situação com umas quantas pessoas emigradas; também nos Estados Unidos os emigrantes asiáticos tiram melhores resultados que os nativos; e no entanto, veja-se o ranking...
Sobre as áreas curriculares não disciplinares devo assinalar que, numa ou noutra forma, existem em quase todos os países; mas, cá, correu quase tudo mal: as orientações iniciais eram curtas e pouco apoiadas, o próprio M.E. se encarregou de as subverter imediatamente e as escolas não souberam usar a sua autonomia para que elas fossem realmente produtivas; e os responsáveis (a nível de escola, regional e nacional) continuam a assobiar discretamente para o lado. Uma pena!
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